
Muitas empresas exigem que o trabalhador abra uma Pessoa Jurídica (PJ) ou um Microempreendedor Individual (MEI) para ser contratado. A promessa costuma ser de mais flexibilidade e um salário líquido maior. Porém, na prática, o dia a dia desse profissional é idêntico ao de um funcionário com carteira assinada, com horários fixos, chefe e metas a cumprir.
Se essa situação parece familiar, você pode ser uma vítima de "pejotização", uma prática ilegal que busca mascarar uma relação de emprego para reduzir custos trabalhistas. A boa notícia é que a lei protege o trabalhador nesses casos.
Este artigo vai explicar como identificar se você é um falso PJ e quais são os seus direitos se estiver trabalhando como um empregado CLT, mas sem o devido registro em carteira. Compreender essa dinâmica é o primeiro passo para garantir o que é seu por direito.
A pejotização ocorre quando uma empresa contrata um trabalhador como se fosse uma outra empresa (PJ), mas, na realidade, a relação tem todas as características de um vínculo empregatício tradicional, regido pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
O objetivo da empresa com essa manobra é fraudar a legislação trabalhista, deixando de pagar direitos essenciais como férias remuneradas, 13º salário, FGTS e aviso prévio. Basicamente, a empresa busca obter os benefícios de ter um empregado subordinado sem arcar com as obrigações legais correspondentes.
Essa prática é ilegal e, quando comprovada na Justiça do Trabalho, resulta no reconhecimento do vínculo de emprego e no pagamento de todos os direitos que foram negados ao trabalhador.
A principal diferença entre um prestador de serviços autônomo e um empregado CLT não está no nome do contrato, mas na forma como o trabalho é executado no dia a dia. A Justiça do Trabalho analisa a realidade dos fatos, e não apenas o que está no papel.
Para que o vínculo de emprego seja reconhecido, é preciso comprovar a existência de alguns requisitos fundamentais. Avalie se sua rotina de trabalho inclui os seguintes pontos:
Apenas você pode realizar o trabalho? Se você não pode enviar outra pessoa para te substituir em um dia de ausência, isso é um forte indício de pessoalidade. Um prestador de serviços autônomo, em teoria, poderia contratar outra pessoa ou empresa para executar a tarefa.
Você recebe um salário fixo mensalmente pelo seu trabalho? O pagamento regular e contínuo, independentemente da quantidade de "serviços" prestados no mês, caracteriza a onerosidade, um dos pilares da relação de emprego.
Seu trabalho é contínuo e permanente, e não esporádico. Você trabalha todos os dias ou com uma frequência fixa (por exemplo, três vezes por semana) para a mesma empresa? O trabalho não eventual é aquele integrado à rotina da empresa, essencial para sua atividade.
Este é o requisito mais importante para diferenciar um autônomo de um empregado. A subordinação existe quando o trabalhador está sujeito a ordens e diretrizes do empregador. Pergunte a si mesmo:
Se as respostas para essas perguntas forem "sim", há uma grande chance de existir subordinação jurídica, o que descaracteriza completamente a autonomia de um PJ.
Se a Justiça do Trabalho reconhecer que você era, de fato, um empregado, a empresa será condenada a pagar todos os direitos trabalhistas que você teria recebido se sua carteira tivesse sido assinada desde o início.
Isso inclui os direitos referentes aos últimos cinco anos de trabalho, que são:
Dependendo da situação, também pode haver o direito a indenizações por danos morais, especialmente se a fraude causou prejuízos evidentes ao trabalhador.
Se você se identificou com o cenário descrito, é fundamental buscar orientação jurídica para proteger seus direitos. O primeiro passo é reunir provas que demonstrem a existência da relação de emprego.
Segundo o advogado trabalhista Rodrigo Fortunato Goulart, "é essencial que o trabalhador documente tudo o que puder: e-mails com ordens diretas, mensagens de WhatsApp que comprovem a subordinação e o controle de jornada, testemunhas que possam confirmar a rotina de trabalho, e comprovantes de pagamento recorrente".
Com essas provas em mãos, um advogado especialista em direito do trabalho poderá analisar seu caso e entrar com uma ação trabalhista para pedir o reconhecimento do vínculo empregatício e o pagamento de todos os seus direitos retroativos.
A pejotização é uma fraude que precariza as relações de trabalho e priva o profissional de direitos conquistados com muita luta. Estar contratado como PJ, mas trabalhar com as obrigações de um CLT, coloca você em uma posição de vulnerabilidade, sem a segurança e a proteção garantidas pela lei.
Não aceite abrir mão dos seus direitos. Se você suspeita que está em uma situação de falso autônomo, o caminho é buscar informação e apoio jurídico qualificado. Um advogado trabalhista experiente saberá como analisar sua situação e tomar as medidas necessárias para que a justiça seja feita.
Lembre-se: o que define sua relação com a empresa é a realidade do dia a dia, e não o título do seu contrato. Se você age como um funcionário, deve ter os direitos de um.

por Agência de Marketing Digital
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